Hoje o ditador acordou a meio da noite e teve um acesso pirómano. Levantou-se, cego pela tontura lunática, e cambaleou até à secretária e pegou no isqueiro, e guardando o isqueiro na mão foi cambaleando à cozinha buscar o candeeiro de petróleo e abriu o candeeiro e vazou o petróleo para uma garrafa e na garrafa abriu um buraco. E foi para a rua. E na rua pegou na garrafa esburacada com o petróleo e petróleo jorrava da garrafa esburacada e deixava um desenho na neve de ontem e regou um carro com o petróleo e acendeu o isqueiro. E contemplou a chama louca e brilhante, louco e cambaleante. E arrastou-se para longe do carro e deixou um rasto de petróleo e deixou cair o isqueiro e esperou. Um segundo. E a chama minúscula do isqueiro era agora maior e consumia o rasto de petróleo e corria veloz. Um segundo. E o rasto veloz de petróleo era agora maior e consumia o carro numa bola de fogo. Dois segundos. E a bola maior de fogo era agora uma explosão e da explosão saltaram restos de metal e o metal ardia e nunca metal ardeu assim. E o metal caiu na neve e abriu buracos na neve e ardia. E o fumo negro manchava a luz amarela do candeeiro de rua e a fuligem negra manchava a mancha branca da neve do chão. E o ditador, cambaleante, sentou-se, e louco ficou a contemplar, louco, a dança frenética das chamas e do metal e do fumo.
пожар
se os chinelos do ditador falassem...
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