se os chinelos do ditador falassem...

18 de janeiro de 2010

O ditador hoje saiu à rua depois do almoço, e levantando os braços ao céu e às nuvens cinzentas que lhe caiam em cima gritou e ordenou que parasse a chuva e a chuva não lhe obedeceu. E o ditador gritou e ordenou de braços ao alto que a chuva o ouvisse, que ouvisse a sua voz e a sua voz elevou-se dizendo que parasse a chuva e chuva não lhe obedeceu. E o ditador tentou mais sete vezes que a chuva parasse e à oitava já se ajoelhava num transe louco de raiva pela desobediência da chuva perante a sua omnipotência e berrou até a boca lhe saber a sangue e chorou e gemeu e arrancou a roupa e rasgou a pele e ordenou que a chuva parasse e a chuva amainou mas não parou. E o ditador em desespero louco e raivoso mordia o ar e ladrava e uivava e berrava ordens e palavras inexistentes a não ser naquele momento e ordenou que a chuva parasse. E à segunda hora de êxtase a chuva parou. E o ditador levantou-se, calmo, devagar, e vestiu a roupa rasgada e, contente porque a sua omnipotência tinha sido comprovada, foi-se embebedar.


дождь

Sem comentários:

Seguidores