se os chinelos do ditador falassem...

4 de abril de 2010

Não porque não porque não porque não porque não. Somos sensações em amarelo, somos sopros em azul, somos vertigens em vermelho, somos fusões espectrais de luz não refractada espelhada para todos e de todos espelhada. Somos sabão, somos cola, somos água, somos mola e alavanca, roldana e equilíbrio, corda e vela e vento. Não porque não porque não porque não porque não. Somos mentes fechadas com largos horizontes e horizontes horizontais num panorama de declínios verticais interminavelmente infinitos. Somos mentes abertas com vistas curtas e vistas entrevistas entre olhares e relances e olhos raiados e dilatados e drogados e relaxados. NÓS NÃO ESTAMOS MORTOS, ESTAMOS EM STANDBY. Somos frigoríficos a arder, somos fornos congelados, somos cerveja morna em copo rachado, somos champagne francês em flute de baccarat. Não porque não porque não porque não porque não. Somos tubos e canos e cimento e tijolos e furacões. Autodestrutivos. Somos aventureiros medrosos, somos fracos com sangue nas guelras, tias apitalhadas com pêlo na venta, vendedeiras com boas maneiras. Somos o que acreditamos e só acreditamos em nós e somos tudo e somos nada, e mar e deserto e céu e nada e lua e nada. E terra. Ah, e claro ópio. E religião. Somos o futuro do nosso presente, somos o passado do nosso futuro, somos o presente do nosso passado e nunca isso há-de mudar. Somos crentes e velhas sem dentes. Somos infiéis e andamos desorientados, aos papéis! Somos interrogações? Somos exclamações! Somos afirmações. Pouco firmes, mal gritadas a plenos pulmões, mal ecoadas, mal escoadas, mal coadas, mal filtradas, mal puxadas, somos a pica do cigarro e a espuma da jolinha, somos o solo de guitarra e a bola de espelhos, somos uma noite a pé, somos uma noite sem pés nem cabeça, somos uma noite a dançar, a beber, a fumar, a comer, a fornicar e a foder. Somos uma geração inteira, mas cada vez mais indivíduos isolados em nós. Não porque não porque não porque não porque não. Somos responsáveis pelo que não fizemos, pelo que não fazemos. Somos ignorados com razão, sem razão, tendo razão. Somos chamados à atenção por termos razão. Somos o que somos e somos o que fazem de nós. Somos o que nos pedem, somos o que queremos. Somos tudo e nada e princípio e fim. Somos deuses e heróis, mitos, lendas, brumas e sebastiões. Somos o olimpo do ocidente, o último imperador do oriente. Não porque não porque não porque não porque não. Somos um alfabeto inteiro resumido em nove algarismos, somos cores e flores. Somos componentes e mecanismos, zoom e lente e vidro e cristal. Somos amigos e amigados, traidores e traídos, cafés. Somos linhas rectas e ângulos, luz sobretudo. Somos nitrato de prata e prata.

2 comentários:

Charlie disse...

somos nitrato de prata e prata?

disse...

sim, que tem? nitrato de prata para a fotografia, prata para a joalharia. foi a pedido da maria, escrevi para postar no fotolog dela.

(:

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