Hoje trovoada porque hoje céu de chumbo por cima das pombas gaivotas melros (corvo ocasional) gás de água roxo-cinzento por baixo das estrelas e dos planetas. Coisa estranha as estrelas, passado só, luz mais velha que a primeira gota do nosso sangue. Hoje trovoada à frente do ocaso solar, bola de fogo, que vapor aquele por trás do horizonte, o sol a apagar-se no mar?, e afinal não, é o fumo de milhares de fósforos queimando milhares de flores secas murchas. Como os ossos da velha do terceiro esquerdo,
- Quem é?
e vai daí que ninguém é, ninguém foi, ou antes, alguém há-de ter ido, onde desconheço, alguém há-de ter ido mas ninguém há-de ter sido na porta, a tinta a estalar nas portadas fechadas desde sempre e a madeira a estalar inchada de calor e água, e os ossos a estalarem e a velha do terceiro esquerdo a ouvir os ossos mais alto porque dela os ossos e a julgar nós de dedos na porta, de maneira que
- Quem é?
e ninguém é, só a trovoada de hoje.
se os chinelos do ditador falassem...
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